Qual será o futuro dos carros? Serão elétricos? Híbridos? Estarão todos conectados? Poderão sozinhos nos levar e buscar aonde queremos? Tudo que estiver no seu interior ou à sua volta será sentido, identificado e compartilhado, inclusive ele mesmo? Com certeza essa realidade será aumentada em todos os sentidos.
É impressionante a revolução que vem acontecendo na engenharia automotiva, talvez a maior desde o advento dos motores a combustão ciclos Diesel e Otto. No limiar de uma nova revolução que envolve grandes vertentes - a dos veículos conectados, a dos veículos autônomos, e a da inevitável integração de elétricos e autônomos, a vedete é a TecnoIogia da Informação (TI).
No novo front as engenharias mecânica, elétrica e mecatrônica se aliam como nunca à TI com o desafio de conectar sistemas embarcados ao ambiente para transmissão e recebimento de dados em tempo real. O objetivo das tecnologias é agregar possibilidades ao próprio veículo, como a de encontrar a vaga e estacionar sozinho, ou descobrir caminhos alternativos no trânsito. Essas são realidades disponíveis comercialmente nos dias de hoje, integradas ao infotainment e também no sistema de navegação do veiculo, além de tablets e smartphones.
Há muito mais: a econavegação visando HMI (Human Machine Interface) para mudar o comportamento na direção (Eco_Drive) em conjunto com aspectos de trânsito e situações de tráfego em tempo real (Eco_Route) e, ainda, um dos pilares atuais da indústria automotiva visando os incentivos do Inovar Auto, as tecnologias aliadas à eficiência energética para consumo menor de combustível e redução nas emissões de CO2, tais como a diminuição do número de cilindros do motor (ou o desligamento dos mesmos), injeção direta e sistemas de Start–stop.
Definidas as regras para o uso de veículos autônomos nas ruas, os projetos sairão do conceito e irão para aplicações em nichos especiais assim como ocorre hoje com os veículos híbridos e elétricos, praticamente sem incentivo no País. Entretanto, são culturais as barreiras mais difíceis de quebrar, e é isso mesmo o que tem feito montadoras em âmbito mundial a analisarem cuidadosamente o mercado futuro e o perfil das novas gerações de consumidores.
O sonho do primeiro carro na nova juventude já não é a maior prioridade. A potência, cilindrada e ronco do motor impressionam menos que a eficiência energética, emissões e conectividade, e até mesmo o desejo de ter a propriedade de um veículo vem aos poucos substituído pela ideia de sistemas de uso compartilhado, já em prática em vários continentes.
Não são poucos os especialistas dedicados à avaliação do grau de maturidade do consumo que citam o modelo americano, em que o contrato de leasing é dominante, como uma predisposição da sociedade para a adoção da transferência da propriedade do veículo para o comodato.
Voltando à visão futurista e análise de tendência do road map tecnológico automotivo, fazer um veículo com conteúdo eletrônico embarcado e powertrain elétrico é muito mais fácil implementar um controle computacional para fazer o veículo andar. Na aeronáutica, essa tecnologia é utilizada há vários anos. Assim, quero reforçar que muito mais desafiador que fazer o veículo andar, é fazê-lo parar, reduzir, e desviar diante de situações imprevisíveis indicadas nos mapas digitais e GPS de alta precisão.
É ai que entra a Engenharia da Computação ou TI, com seus radares a laser 360°, sistemas de radar automotivo, Adaptative Cruise Control, Autonomous Cruise Control System com uso de vários sensores e tecnologias, como câmeras de vídeo stereo, ultrassom e, futuramente, tecnologias Vehicle to Mobiles, que usam sistemas wireless como bluethooth, wi-fi e, quem sabe, NFC, ou links ópticos do habitáculo veicular. Algumas dessas aplicações estão presentes nas competições internacionais estudantis e projetos acadêmicos que nascem na engenharia de computação e são integrados à automação e agregados aos veículos.
No Brasil há iniciativas nessa área, mas ainda falta interesse cooperativo entre a iniciativa privada e a academia ou, quem sabe, receie-se pelos resultados das pesquisas. Seja como for, o conteúdo tecnológico já é motivo de decisão de compra e, quem sabe, será decisão de uso do serviço nos projetos das marcas dos veículos em todo o mundo.
O grande desafio desse futuro será conciliar ciclos de vida e de desenvolvimento de produtos tão distintos com culturas organizacionais e agilidades, ainda mais distintas, em um único modelo de negócio. Explico: automóvel, tempo de vida 10 anos, ciclo de desenvolvimento 1 a 2 anos; dispositivos móveis, tempo de vida 2 anos , desenvolvimento em cadeia a cada seis meses, no mínimo; aplicativos multiplataformas, tempo de vida de 1 dia a 1 ano, algumas semanas de desenvolvimento. Vai ser um futuro de muito trabalho.
Este assunto está na pauta do Congresso SAE BRASIL, que será realizado de 30 de setembro a 2 de outubro, no Expo Center Norte, em São Paulo.
*Ricardo Takahira é engenheiro e chairperson do Comitê de Veículos Elétricos e Híbridos do Congresso SAE BRASIL
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