São Paulo – A inter-relação da tecnologia na F1, no setor aeroespacial e na indústria automobilística é realidade no Brasil e foi um dos temas de destaque na Conferência Internacional SAE BRASIL de Tecnologia e Inovação 2015, que reuniu especialistas renomados dessas áreas para falar de inovação neste dia 12 de novembro, no Consulado Britânico, em São Paulo. De acordo com os palestrantes esse movimento não começou agora, e avança silencioso pela raia do conhecimento: os materiais compósitos aeronáuticos são úteis para tornar mais leves os carros F1, os processos avançados de manufatura da indústria automobilística servem de inspiração na linha de produção de aviões, e as descobertas da F1 podem ser vistas cada vez mais nos carros premium que circulam pelas ruas.
Alex Ellis, embaixador britânico no Brasil, e Richard Greaves, presidente da SAE International, fizeram a abertura oficial do evento, e Joanna Crellin, cônsul britânica, e Frank Sowade, presidente SAE BRASIL, o encerramento.
Carro supersônico - A conferência inaugurou a exposição da réplica do carro supersônico BloodHound, exibido em Londres pela primeira vez em setembro último. O Bloodhound foi desenvolvido pelo engenheiro britânico Mark Chapman, e é capaz de correr à velocidade acima de 1.600 km/h, tem 135 mil cavalos de força, 14 metros de comprimento e pesa 7,7 toneladas.
Inovação - O aproveitamento do conhecimento para inovação foi o tema da apresentação de Richard Caborn, consultor estratégico do Centro de Pesquisa de Manufatura Avançada (AMRC) da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, que abriu o ciclo de palestras. Caborn apontou a dificuldade das instituições em converter o conhecimento em inovação, e destacou a aposta da AMRC na formação qualitativa das novas gerações nas diversas áreas da engenharia. A entidade mantém programas com objetivo de viabilizar a aplicação de pesquisas em produtos inovadores e investe na motivação das novas gerações. “Temos um centro avançado de compósitos com cursos técnicos de nível fundamental para jovens, com mais de 400 aprendizes, é preciso começar cedo”, afirmou.
Híbridos - Ian Cluett, diretor comercial da Williams Grand Prix Engineering, dividiu o painel Influência da F1 nos Veículos Híbridos e falou sobre a interação dos conjuntos híbridos hoje construídos e aplicados aos veículos e sistemas de produção contínua. Destacou a evolução da tecnologia de baterias e os e desafios operacionais e técnicos encontrados nas pistas, como o de manter a bateria fria em condições de alta temperatura ambiente e do solo.
“O futuro é locomoção, não é carro, estamos falando de mobilidade”, anunciou Celso Duarte, gerente de Inovação da Ford Motors, que falou sobre as tecnologias avançadas da F1 e dos veículos de produção, principalmente da parte híbrida. Duarte ressaltou os avanços na redução de emissões de CO2 pelo aperfeiçoamento de motores e aplicação de novos materiais, mas destacou: “Isso não é o bastante para a eficiência que buscamos”. Para Duarte, são necessários baterias mais avançadas e carregamento mais rápido. “Os sistemas híbridos são o caminho, por isso vemos sua aplicação crescer cada vez mais ao redor do mundo”, concluiu.
Conectividade – No painel Conectividade e Mobilidade Inteligente, Alex Aguirre, diretor da BT Global Service, patrocinadora da equipe Williams de F1 e responsável pela conexão on line de alta velocidade de todas as competições ao redor do mundo, abordou o carro conectado e alertou sobre a importância da segurança dos sistemas. “O carro atual é um data center móvel, uma central de convergência da engenharia mecânica, eletrônica e de computação, e a segurança de dados é uma questão ainda muito séria”, frisou.
Gabriel Patini, diretor de Marketing e Produto Jaguar Land Rover, ratificou a tendência de conectividade cada vez maior no segmento de veículos premium e confirmou as três tecnologias em que a marca trabalha mais forte para melhorar a experiência do usuário – entretenimento, segurança e economia de combustível. Patini disse ainda que tecnologias inovadoras embarcadas, como monitoramento de pista, que identifica buracos e alterações no percurso e sinaliza a aproximação lateral de pedestres, e controle de direção de fora do carro, via celular, por meio de um aplicativo.
Conhecimento compartilhado – “A asa do avião é um aerofólio invertido”, disse Gustavo Costa, engenheiro de materiais da Embraer, ao falar sobre a relação da indústria aeronáutica e automobilística no painel A F1, o Setor Aeroespacial e a Engenharia Automotiva. Costa listou as diferenças entre as prioridades e as semelhanças de resultados desejados para o produto nos setores aeronáutico e automobilístico e disse que cada um tem valiosa contribuição a dar ao outro. “Os compósitos aeronáuticos são aplicáveis a soluções para a F1, que precisa de carros mais leves, e que por sua vez, fornece avanços em diversos segmentos para os carros produzidos em série, cuja indústria tem servido de referência para a otimização de processos produtivos na manufatura aeronáutica”, destacou.
Graham Harrison, diretor de Parcerias Estratégicas do The National Composite Centre do Reino Unido, disse que o consumo de compósitos cresceu consideravelmente nos últimos anos por causa da necessidade da redução de consumo de combustível na aeronáutica. Segundo o especialista, a aplicação de fibra de carbono representa hoje 50% da fuselagem do avião.
“O fluxo da tecnologia se inicia com investimento e segue com o desenvolvimento e com a migração para outros segmentos, uma sinergia em que avanços de um setor são melhorados por outro, o que eleva o padrão de ambos”, destacou Henrique Langenegger, diretor de Projetos Avançados da Embraer. Langenegger citou as práticas de lean e just in time, além do gerenciamento da cadeia de suprimentos aplicados pela indústria automobilística, e que vêm sendo incorporadas à produção aeronáutica. “Estamos tentando aprender”, finalizou.
Fórmula 1 – Emerson Fittipaldi abriu o último painel da conferência, com o tema Evolução da Fórmula 1. Fittipaldi discorreu sobre os avanços na aerodinâmica, projeto e construção dos carros, eletrônica, motores, pneus materiais, e informação, e finalizou: “O ser humano ainda é decisivo num grande prêmio”. Marcin Budkowski, coordenador técnico e esportivo de F1 na FIA destacou a pesquisa de segurança na F1 que registrou avanços considerados importantes nas áreas de proteção para o capacete e a cabeça do piloto, proteção lateral, e frontal do cockpit. Budkowski revelou a introdução de novos testes em 2017 e ressaltou a importância da análise de acidentes para a evolução da segurança nos carros. De acordo com o especialista, a investigação detalhada de acidentes com câmeras de 400 quadros por segundo será padrão na F1 a partir do ano que vem.
|