Para se enquadrar às normas do Inovar-Auto as empresas precisam fazer mais do que desenvolver tecnologia. É preciso adotar bons processos de gestão. Esse é a opinião dos palestrantes que participaram do 11º Simpósio SAE BRASIL de Powertrain, que reuniu nestes dias 12 e 13 de agosto, em Sorocaba, SP, cerca de 300 profissionais da indústria. Especializados em motores ciclo Otto e sistemas de transmissões, palestrantes nacionais e internacionais analisaram a situação da engenharia nacional no âmbito do acordo automotivo Inovar-Auto.
De acordo com Carina Leão, consultora da Inventta, não basta apenas investir no desenvolvimento de tecnologias se a empresa não conseguir controlar seus processos. “É preciso se enquadrar em determinadas regras para que os investimentos sejam realmente considerados P&D”, comentou.
A consultora destacou que muitos aspectos determinantes sobre o que era P&D na Lei do Bem não se caracterizam como atividade de engenharia no Inovar-Auto. “Por isso, é muito importante que as empresas prestem bastante atenção nas exigências do programa para que não invistam e depois não consigam obter o benefício”, alertou. Carina alertou pela necessidade em manter um bom processo de gestão nos processos, em razão do grau de exigência de controle de projeto. “Isso deve ser minuciosamente, bem explicado e detalhado. O Inovar-Auto não é apenas o desenvolvimento propriamente dito”, alertou.
Mercado – Algumas empresas apresentaram soluções tecnológicas para que os veículos se adequem às regras do Inovar-Auto. A VW mostrou seu motor três cilindros que equipa o Fox, que além de mudanças no motor, recebeu alterações na aerodinâmica e na direção. De acordo com o gerente de Engenharia de Powertrain da montadora, Roger Guilherme, é preciso que as empresas desenvolvam tecnologias que o cliente esteja disposto a pagar. “De nada adianta enchermos os carros de inovações, se elas não forem absorvidas pelo mercado”, enfatizou.
O supervisor de Engenharia de Aplicação da Fiat, Sandro Soares, destacou que os esforços das empresas em atingir as metas do Inovar-Auto serão percebidos pelos consumidores. “Com a entrada de carros mais eficientes, essa percepção será inevitável”, comentou.
Segundo o executivo a sociedade pede por produtos mais modernos e eficientes. “Essa exigência está sendo imposta ao mercado, quem não se adaptar a ela estará poderá não se manter ativo”, destacou.
Soares lembrou que o consumidor está ansioso por carros mais modernos. “Quem conseguir colocar no mercado carros com tecnologias que valorizem a nossa engenharia, estejam adequados ao acordo e causem menos impacto no bolso do consumidor, realmente terá sucesso”, comentou.
Para o engenheiro o objetivo do governo é ousado e desafiador. “Não tem como uma empresa enquadrar seus produtos às novas regras se não investir em toda sua gama de produtos. Por isso, esse programa é muito instigante. Com certeza o mercado de vendas de automóveis deverá ser bem diferente depois de 2016”, finalizou.
Para o coordenador da Comissão Técnica de Motores Otto da SAE BRASIL, Eduardo Tomanik, quando o governo oficializou o Inovar-Auto ele não tinha apenas o objetivo de reduzir o consumo do combustível, mas aumentar a competitividade. “Ele quer que os investimentos em P&D e engenharia básica cresçam”, afirmou.
Educação – Outro aspecto discutido durante o simpósio foi a necessidade da aproximação da academia com a indústria para o fomento do desenvolvimento tecnológico no Brasil. Para o professor do Instituto Mauá de Tecnologia, Clayton Zabeu, a necessidade de trazer mais engenheiros ao mercado obriga a migração da academia para a iniciativa privada, mas o retorno desse profissional para a universidade é um caminho mais difícil. “Então uma das formas de minimizar esse efeito é tentar manter esse profissional, logo depois da sua formação, num projeto de pesquisa que esteja ligado a uma empresa que ele veja a oportunidade de dar uma continuidade na sua carreira profissional”, ensina.
Segundo Zabeu, algumas universidades que viram a importância em fomentar o gosto pela pesquisa em seus alunos, perceberam a necessidade de trabalhar junto com as empresas para suprir a crescente demanda de mão de obra especializada para o mercado e, ao mesmo tempo, permitir que os pesquisadores deem continuidade à carreira.
Para o diretor do Laboratório de Engenharia Veicular da PUC-RJ, Sérgio Braga, esse fomento deve vir das duas partes, empresa e academia. “Temos muitos alunos que estão na indústria e que sente a necessidade de se capacitar mais na pesquisa básica. Por outro lado, algumas empresas já utilizam a formação como um critério de ascensão”, concluiu.
O chairman do Simpósio, Mauro Moraes de Souza, finalizou a discussão ao afirmar que o Brasil tem mostrado tendências diferentes de outras regiões do mundo, por isso precisa buscar soluções caseiras. “Essa ideia de que buscar algo lá fora e trazer para nosso mercado ou mesmo tropicalizar alguma tecnologia não necessariamente será um caminho. Acredito que a saída está em desenvolvermos tecnologias próprias para nossos problemas”, comentou.
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