A equipe Tucano, da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, foi a campeã pela Classe Regular da XII Competição SAE BRASIL AeroDesign, concluída neste domingo (24) na Pista de Táxi do Aeroporto do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos, SP. O avião, projetado e construído pela equipe, obteve 455.1 pontos na classificação geral, ao transportar 13.950 kg. Na Classe Aberta, a equipe Leviatã, do Instituto Tecnológico da Aeronáutica/ITA, sagrou-se campeã na competição, ao carregar 25.190 kg e obter 443.9 pontos. Na Classe Micro, a equipe EESC-USP Mike, da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP), sagrou-se bicampeã na categoria, com 356.51 pontos, ao carregar 1.655 kg de carga.
A edição de 2010 da Competição SAE AeroDesign teve início no dia 21 de outubro e teve como segunda colocada, pela Classe Regular, a equipe EESC-USP Alpha, da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo/USP, com 432.2 pontos. Na Classe Aberta, a segunda colocada foi a equipe EESC-USP Charlie, também de São Carlos, com 418.2 pontos. A equipe Céu Azul, da Universidade Federal de Santa Catarina, foi a segunda colocada na Classe Micro, com 356.43 pontos.
As equipes classificadas em primeiro e segundo lugares da Classe Regular, e as equipes classificadas em primeiro lugar nas Classes Micro e Aberta - Tucano, EESC USP Alpha, EESC USP Mike e Leviatã - ganharam o direito de representar o Brasil durante a SAE AeroDesign East Competition, com apoio técnico, logístico e financeiro da SAE BRASIL. A competição internacional, que reúne equipes da América do Norte e Europa, será realizada pela SAE International de 29 de abril a 1º de maio de 2011, em Marietta, Georgia, nos Estados Unidos. Na SAE AeroDesign East Competition, as equipes brasileiras acumulam histórico expressivo de participações, incluindo cinco primeiros lugares nas Classes Regular e Aberta e um primeiro lugar na Classe Micro.
A Competição SAE BRASIL AeroDesign registrou o comparecimento de 77 equipes, entre 96 equipes inscritas, que representaram 14 estados brasileiros e mais o Distrito Federal, além da Venezuela, México, Índia e Estados Unidos. As 77 equipes (cinco estrangeiras) presentes representaram 64 instituições de ensino.
MENÇÃO HONROSA - A Comissão Organizadora da competição ainda conferiu menções honrosas às equipes que se destacaram em 11 quesitos:
Melhor Projeto - equipe Uai Sô Fly, da Universidade Federal de Minas Gerais (Classe Regular), equipe EESC-USP Charlie Open, da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (Classe Aberta) e equipe EESC-USP Mike (Classe Micro).
Melhor Apresentação Oral – equipe Cefast (Classe Regular), do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, equipe EESC-USP Charlie Open; e equipe FENG do Instituto Tecnológico da Aeronáutica/ITA (Classe Micro).
Aeronave de Menor Tempo de Montagem – equipe Aerofeg, da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Guaratinguetá. Tempo: 60 segundos.
Maior Acuracidade (capacidade de acerto) – equipe Keep Flying (Classe Regular); equipe EESC-USP Charlie (Classe Aberta); e equipe Ideafix, do Instituto Mauá de Tecnologia/São Caetano/SP (Classe Micro).
Maior Peso Carregado Setor 1 – (distância 30,5 m para decolagem) equipe Trem Ki Voa, da Universidade Federal de São João Del Rei/MG, com 9.23 kg (Classe Regular).
Maior Peso Carregado Setor 2 – (distância 61 m para decolagem) equipe Keep Flying, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Classe Regular – peso: 16.21 kg.
Aeronave com Menor Volume de Transporte / Caixa de Mínimo Volume – equipe Taperá, do Instituto Federal de São Paulo, de Salto. Dimensão caixa: 0.132 m³.
Menor Tempo de Retirada de Carga (2.15 segundos) – equipe Keep Flying (Classe Regular) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
Maior Fator Eficiência Estrutural – equipe Aerofeg, da UNESP Guaratinguetá, SP.
Maior Peso Carregado – equipe EESC-USP Charlie Open, com 27.865 kg (Classe Aberta); e equipe Tucano Micro, com 1.715 kg (Classe Micro).
Melhor Equipe Internacional – equipe Kukulcán, do Instituto Politécnico Nacional, de Monterrey, campus Estado de Mexico.
Primeira Equipe Norte-Americana – equipe Pantherwings, da Florida International University, EUA.
Melhor Inovação Tecnológica e Ousadia – equipe Céu Azul Micro, da Universidade Federal de Santa Catarina.
A COMPETIÇÃO - A competição teve início com a etapa denominada Competição de Projeto, na qual as equipes tiveram seus projetos avaliados e questionados por comissões de juízes que integram o Comitê Técnico, formado por engenheiros da indústria aeronáutica e que atuaram como voluntários no evento. A partir de sexta-feira até domingo deu-se a etapa de Competição de Voo, ocasião em que os aviões passaram por oito baterias em que demonstraram serem capazes de decolar e transportar cargas úteis (simuladas por barras de chumbo) sempre crescentes, até as condições limite de cada projeto.
Foram quatro dias de difusão e aprimoramento de técnicas de projeto aeronáutico, em ambiente de grande criatividade e de cooperação entre as equipes, com destaque para a criatividade e o empreendedorismo dos participantes, confirmando a qualidade educacional do projeto, sempre mais reconhecida por empresas à procura de novos talentos no campo da engenharia, em especial dos segmentos automotivo e aeroespacial.
TECNOLOGIAS – Mais uma vez o avanço no nível técnico dos projetos chamou a atenção da Comissão Técnica, principalmente para melhorar a eficiência estrutural e assim tornar os aviões cada vez mais leves e resistentes, capazes de carregar grandes cargas. A Comissão notou que houve extensa pesquisa sobre materiais e sua correta aplicação em partes de maior esforço, como longarina e trem de pouso, tendência próxima das aplicações da indústria aeronáutica. À tradicional madeira balsa, somaram-se estruturas com tubos de fibra de carbono e espuma rígida de resina termoplástica (PVC), além de peças de alumínio cortadas a laser.
Na Classe Regular, houve uma diversidade de configurações de aeronaves, com soluções totalmente diferentes, que buscaram máxima eficiência aerodinâmica e estrutural sob as mesmas regras da competição. O que se viu foram configurações de aeronaves desde convencionais (com asa e cauda) até asas voadoras (aeronaves sem cauda), as quais foram projetadas para tentar bater o recorde de carga transportada dentro da SAE BRASIL AeroDesign, recorde alcançado pela asa voadora da equipe Keep Flying, da Poli-USP, com 16.215 kg de carga transportada. O destaque da competição, no entanto, foi a busca pela maioria das equipes, por aeronaves extremamente leves e capazes de transportar mais de quatro vezes o seu próprio peso.
A Classe Micro, lançada em 2009 e que reuniu 12 equipes de um total de 15 inscritas, trouxe várias inovações principalmente para reduzir o peso dos projetos, entre elas um trem de pouso extremamente leve construído de forma similar a uma roda de bicicleta miniaturizada, utilizando tubos de fibra de carbono e linha similar às usadas em vara de pesca. O resultado foi a redução de 10 gramas no peso do avião, muito importante na categoria, a qual teve oito projetos classificados para a Competição de Voo. Outro exemplo excepcional foi o uso de torção de asa para fazer o controle de rolamento e, com isso, foi possível reduzir o peso da aeronave, que vazia pesava menos de 300 gramas, o mais leve da Classe Micro em 2010.
Foram observados também projetos com modificações notáveis na parte estrutural, como a criação de um sistema de repartição de asa para facilitar o transporte da aeronave, um desafio para as equipes da Classe Micro. A inovação permitiu reduzir em 3% as dimensões da aeronave, que deve caber desmontada em uma caixa com volume máximo de 0,125 m³. De uma forma geral, todos os aviões da Classe Micro apresentaram motores elétricos e estruturas extremamente leves, com altíssima eficiência estrutural, capazes de transportar até três vezes o seu próprio peso.
PATROCÍNIO – A competição contou com o patrocínio de grandes empresas do setor, como Aernnova, C&D Zodiac, Dassault Aviation, EADS, Embraer, GE, Honeywell, Rolls-Royce, SSAB, Sonaca, Rockwell Collins e Parker Aerospace e United Tecnologies. Importante também foi o apoio de instituições públicas, como o DCTA, Infraero, ITA, Prefeitura de São José dos Campos, Rede Accor e Associação Desportiva Classista Embraer (ADCE).
O Projeto AeroDesign é um programa de fins educacionais, organizado pela Seção São José dos Campos. O objetivo é propiciar a difusão e o intercâmbio de técnicas e conhecimentos de engenharia aeronáutica entre estudantes de graduação e pós-graduação em Engenharia, Física e Ciências Aeronáuticas e futuros profissionais do importante segmento da mobilidade, através de aplicações práticas e da competição entre equipes.
Para o presidente da SAE BRASIL, engenheiro Besaliel Botelho, o Projeto SAE BRASIL AeroDesign é um celeiro de talentos da engenharia aeroespacial brasileira. “A competição é palco para os jovens futuros engenheiros aeronáuticos demonstrarem seu potencial e sua capacidade para desenvolver projetos inovadores no setor”, ressalta Botelho, ao completar que a competição é utilizada como oportunidade para recrutamento de futuros engenheiros pelas grandes empresas da área.
Regulamento - Os aviões da competição são classificados em Classe Aberta, Classe Regular e Classe Micro. Na primeira, não existem restrições geométricas às aeronaves ou ao número de motores instalados, desde que a soma das cilindradas dos motores esteja entre 15,08 cc (ou 0,91 in3) e 19,9 cc (1,22in3). Esta categoria inclui pós-graduandos e restringe distância máxima de decolagem: 61m. Já na Classe Regular, os aviões são monomotores, com cilindrada padronizada em 10 cc (10 cm3 ou 0,61 in3). O regulamento impõe restrições geométricas que delimitam as dimensões máximas das aeronaves, que devem ser capazes de decolar em uma distância máxima delimitada, de 30,5m ou 61m conforme estratégia da equipe.
A Classe Micro não impõe restrições geométricas aos projetos nem ao número de motores, porém a equipe deve ser capaz de transportar a aeronave dentro de uma caixa de 0,125m³. Nesta classe, as aeronaves podem usar motores elétricos e devem decolar em até 30,5m. As avaliações e a classificação das equipes são realizadas em duas etapas: Competição de Projeto e Competição de Voo, conforme o regulamento da SAE BRASIL - no site www.saebrasil.org.br -, baseado em desafios reais enfrentados pela indústria aeronáutica.
Fotos – Sérgio Fujiki |