O País deve apresentar um crescimento interno atrativo nos próximos anos, mas precisa melhorar no quesito inovação sob pena de perder competitividade em médio prazo. O recado é dos especialistas que participaram do Simpósio de Tendências e Inovação que a SAE BRASIL realizou no dia 30 de agosto, em São Paulo.
O Brasil caiu da 50ª para a 68ª posição no Global Innovation Index 2010, ranking mundial de inovação. O País é o 4º maior mercado mundial e, de acordo com Stephan Keese, diretor da Roland Berger no Brasil, pode chegar a 2013 com a capacidade instalada de 4,8 milhões de unidades/ano e atender a demanda, mas terá problemas em 2020, quando o mercado interno será de 5,6 milhões de veículos vendidos. “Sem competitividade, a importação pode superar 20% desse volume”, previu. Ele apontou ainda que o nível de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, de 2,2% nas montadoras brasileiras de veículos leves, está aquém do global (5%) e que é ainda menor nos fornecedores – 0,5% contra 3,1% globais, o que resulta em indisponibilidade de engenheiros, falta de tecnologia e poucas patentes.
Já para Letícia Costa, sócia-diretora da Prada Assessoria, a dificuldade começa no preço elevado das matérias-primas e também de produtos petroquímicos, como plástico. Letícia destacou ainda que o custo do capital de giro para pequenas empresas é um entrave à competitividade e que o custo da mão de obra e os gargalos logísticos também afetam negativamente o mercado, além da elevada carga tributária.
O economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, disse que o cenário mundial é de retomada muito lenta do crescimento acompanhada de deflação, porém, sem incertezas que possam levar a uma nova recessão. “O grande beneficiário é o Brasil, cuja economia caminha bem, com aumento do poder aquisitivo, inserção no mercado de consumo e estabilidade política, o que dá confiança para quem deseja investir”, comentou.
Montadoras - O presidente da Volkswagen, Thomas Schmall, destacou que além do preço do aço, a logística é um grande desafio, assim como a infraestrutura de portos e aeroportos no Brasil, que podem provocar sérios gargalos. A meta da empresa é a redução do tempo de entrega dos veículos aos clientes, que será obtida com melhorias operacionais e investimentos em tecnologia. Até março de 2011, a Volkswagen pretende ampliar a capacidade atual da fábrica de São Bernardo do Campo de 1,3 mil para 1,6 mil veículos/dia. Schmall espera um mercado para mais de 4 milhões de veículos em 2014, dos quais a Volkswagen do Brasil responderia por 1 milhão.
Já para Denise Johnson, presidente da GM Brasil, avançar em pesquisa e desenvolvimento é uma das prioridades. A executiva prevê que o mercado interno absorva mais de 4 milhões de veículos em 2015 e que a participação local pode diminuir, diante do crescimento das importações. “A evolução da tecnologia nacional no mesmo ritmo do mercado é a saída para conter esse movimento”, apontou. Com investimentos de R$ 5,42 bilhões para ampliação e melhoria da infraestrutura da engenharia local e renovação do portfólio, as prioridades da montadora são desenvolver tecnologias de conectividade, segurança, materiais alternativos, reciclabilidade e propulsão.
Marcos de Oliveira, presidente da Ford Mercosul, disse que uma das premissas da marca é manter o crescimento pautado na formação de engenheiros. Para o executivo, o mercado brasileiro vive um momento de deflação no preço dos automóveis, mas o custo da mão de obra ainda é elevado. “Esse é o grande desafio da indústria e o déficit de engenheiros é uma preocupação”, disse.
Já Renato Mastrobuono, diretor da SAE BRASIL, questionou se o crescimento de volume do mercado nos próximos anos terá correspondência na área de desenvolvimento de produto. Para Carlos Eugênio Dutra, diretor de Planejamento e Estratégia de Produtos da Fiat, a engenharia tem acompanhado a dinâmica do mercado. Pedro Manuchakian, vice-presidente de Engenharia da General Motors, destacou que é a concorrência que estimula a demanda de projetos de produtos, e Ronald Linsmayer, vice-presidente de Operações e COO da Mercedes-Benz do Brasil, disse que o quadro é o mesmo no segmento de veículos pesados, no qual a exigência dos clientes é cada vez maior.
Compras - Osias Galantine, diretor de Compras do Grupo Fiat, confirmou investimento R$ 14 bilhões na aquisição de insumos este ano e disse que a qualificação de mão de obra é questão preocupante face à demanda do País. Edgard Pezzo, vice-presidente de Suprimentos da GM para a América do Sul, afirmou que as compras da companhia na região somarão R$ 9 bilhões, a maior parte no mercado brasileiro, e que há preocupações com a qualidade dos fornecedores e a logística.
Autopeças - Paulo Bedran, diretor de Indústria de Equipamento de Transporte do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), afirmou que o governo trabalha para incluir a indústria de autopeças na segunda etapa da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) que está em curso no MDIC para o período de 2011 a 2014. “É necessário incentivar a engenharia e a inovação, com melhores processos produtivos e interação com universidades”, disse.
O secretário executivo do Ministério da Indústria e Comércio, Ivan Ramalho, disse que o setor automotivo pode ter uma política tarifária única para todo o bloco em 2014, quando termina um acordo bilateral entre Brasil e Argentina.
Na avaliação de Paulo Butori, presidente do Sindipeças, o setor de autopeças precisará encontrar saídas para se destacar, já que o custo Brasil continuará alto. "Não acredito em indústria brasileira com baixo custo. Para agregar valor, é necessário apostar em tecnologia e em produtos inovadores", destacou.
Para Besaliel Botelho, presidente da SAE BRASIL, a indústria precisa estar preparada para o aumento da concorrência no mercado interno, com a chegada de novos players. “Precisamos nos fortalecer, investir em inovação para darmos um salto de competitividade”, disse o executivo.
|