Há algum tempo não se ouve falar que o Brasil é o país do futuro e celeiro do mundo. A afirmativa, porém, ainda é verdadeira e já passou a hora de transformar isso em realidade e vantagem competitiva. E isso é impossível sem um sistema de transporte sustentável. No Brasil, o modelo construído foi baseado numa matriz essencialmente rodoviária, no transporte de passageiro e no de carga, que precisa tornar-se mais equilibrada, dando espaço também para outros modais. Na área de carga, se a velha afirmativa ainda vale, como o celeiro do mundo irá escoar a sua produção?
O Brasil conta hoje com 29 mil km de linhas para carga, enquanto a Alemanha, que tem o tamanho do Estado de São Paulo, possui 36 mil km. Faltam aqui ferrovias e portos mais aparelhados para o escoamento da produção. É fato que o Brasil tem avançado, com a eficiência já demonstrada pelas concessionárias ferroviárias de carga e com a execução de importantes obras, como a Ferrovia Norte-Sul, a Transnordestina, entre outras. Mas precisamos de muito mais.
Apesar de o trem ser modal antigo na história do transporte, hoje é a solução para o problema da mobilidade urbana, que afeta muitas cidades. Londres, que irá sediar a próxima Olimpíada, promete oferecer os Jogos mais sustentáveis do mundo, incluindo aí o transporte. A meta é que 100% dos espectadores cheguem aos ginásios, arenas e estádios por transporte público: trens, metrôs e ônibus. O Brasil, que sediará a Copa do Mundo de 2014, precisa acelerar seus projetos, pois o tempo já começa a ficar exíguo.
É certo que o Brasil já deu importantes passos para a melhoria e expansão deste modal. O governo de São Paulo, por exemplo, destinou R$ 20 bilhões ao seu ‘Plano de Expansão’, para a compra de 60 trens para a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e 47 para o Metrô. Entre carros novos e reformados serão cerca de 2 mil, além da ampliação do Metrô e da revitalização das linhas da CPTM, entre outros projetos, como os Expressos Aeroporto e Tiradentes e o VLT de Santos a São Vicente. A prefeitura também investiu no sistema metro-ferroviário com aporte de R$1 bi.
Todas as outras subsedes, como Rio de Janeiro, Brasília e cidades do Nordeste também estão adquirindo trens para seus projetos de expansão.
No transporte de média distância, em trechos de 200 a 1.000 km, não há dúvidas de que a solução passa pelos trilhos, com a adoção de um ou mais tipos de veículos já disponíveis. O trem de alta velocidade, o TAV, é uma delas. O modelo opera com grande eficiência, com resposta energética nove vezes maior que a do avião e quatro vezes superior à do carro. Além disso, o TAV ocupa, em termos de largura da via, um terço da área necessária para a rodovia e transporta até 360 mil passageiros por dia. É a solução ideal para distâncias como São Paulo-Rio, São Paulo-Curitiba e São Paulo-Belo Horizonte. Na Europa, onde o TAV está presente em muitos países, é possível morar em um e trabalhar em outro. Então, por que não morar no Rio e trabalhar em São Paulo?
Já o VLT, veículo leve sobre trilhos, de média capacidade, é ideal para ligar os bairros às linhas principais do metrô e trens de subúrbio, porque o custo é cerca de três vezes menor que o ônibus. O VLT é empregado com sucesso em várias cidades da Ásia e da Europa, como em Montpellier, na França. Na cidade de 400 mil habitantes, duas linhas de VLT transportam 185 mil passageiros por dia. No Brasil, várias cidades comportam este transporte, sendo possível, em alguns casos, o aproveitamento de antigas linhas de carga desativadas, que atravessam cidades.
Ademais, todas essas soluções de transporte devem ser acompanhadas de reurbanização. Bogotá, na Colômbia, possui metrô, corredores exclusivos para ônibus e ciclovias, todos integrados com grandes áreas verdes dentro de uma cidade antiga, que tinha trânsito caótico.
No Brasil, o futuro bate à nossa porta. Teremos uma Copa do Mundo em 2014 e talvez uma Olimpíada em 2016. Logo, modalidades eficazes de transporte de passageiros deverão ser adotadas, como o TAV, que ligará Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. Essas oportunidades precisam, no entanto, ser discutidas. Por isso, o TAV e o VLT serão assuntos do Comitê Ferroviário, dia 7 de outubro, no Congresso SAE BRASIL, em São Paulo. Vamos debater essas novas modalidades e buscar soluções para melhorar o sistema de transporte e a mobilidade do brasileiro.
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