Passado o primeiro impacto da crise global na indústria automobilística, montadoras e empresas de autopeças agora revisam os processos de manufatura para se tornarem mais enxutas e capazes de competir em nível internacional. "A ordem agora é realinhar a cadeia de produção e buscar crescente flexibilidade para reagir com rapidez às variações e oportunidades do mercado", definiu Vagner Galeote, vice-presidente da SAE BRASIL e diretor de Compras da Ford, na abertura do Simpósio SAE BRASIL de Manufatura Automotiva, promovido neste dia 22 de junho, em São Paulo.
Fábio D’Amico, diretor industrial da Fiat, enfatizou a importância da proximidade dos fornecedores para ganhar flexibilidade nas operações da Fiat Automóveis. Metade das 2,8 mil empresas responsáveis pelos suprimentos da montadora está a uma distância de 15 km a 30 km das linhas de montagem localizadas em Betim, MG.
Além dessa estratégia, conhecida como “mineirização” na cadeia de suprimentos da Fiat, também favorecem a fábrica metodologias voltadas para eliminar desperdícios. A unidade tem sido permanentemente adequada ao conceito de World Class Manufacturing do Grupo Fiat, embora a receita final leve boa dose de contribuição local, somando motivação, redução de custos e combate ao desperdício.
D'Amico disse que, apesar do sobe e desce do mercado, a Fiat prevê crescimento do Brasil no ranking mundial de vendas em 2009. “Em 2008, ocupamos a sexta posição, atrás dos EUA, China, Japão, Alemanha e Rússia. O Brasil é o único mercado que está crescendo com a crise” - explicou, ao lembrar que os EUA tiveram recuo nas vendas da ordem de 40% e as perdas se estenderam por toda a Europa.
Marco Piquini, diretor de Comunicação da Iveco América Latina, detalhou a aplicação do sistema de manufatura global da Iveco na unidade de pesados em Sete Lagoas, MG. "As linhas de produção são das mais modernas do mundo. Buscamos ser flexíveis para atender aos pedidos sob encomenda dos transportadores", afirmou. A receita é a mesma da Fiat: combater desperdícios e ganhar produtividade.
Credibilidade - Com as exportações em baixa e uma menor aceleração nas linhas de montagem, chega à indústria desafio ainda maior de adaptar a manufatura às oscilações do mercado. José Francisco Maciel Romero, gerente de Compras e Otimização de Valor da Fiat, contou que a montadora adotou sistemas objetivos para prever a demanda, exercitando cenários para minimizar efeitos negativos na cadeia de produção.
"A Fiat acompanha de perto a evolução do varejo, as tendências do mercado e ouve os fornecedores para tomar decisões. Acreditamos que essa seja boa prática para levar estabilidade ao supply chain e dar uma visão de longo prazo aos fornecedores", garantiu Romero. “Escolhemos linhas estratégicas de produtos, fechamos os custos estruturais e elegemos fornecedores para determinadas parcerias, com volumes garantidos”, disse o executivo.
Marcel Oliveira, diretor de Recursos Humanos, Comunicações e Relações Corporativas do Grupo Shaeffler, destacou a transparência na relação entre montadoras e fornecedores como forma de preservar a credibilidade na área de suprimentos. “Os fornecedores tiveram grande impacto com a desarticulação da produção. As montadoras devem se esforçar para reconstruir os elos”, disse.
Para Sérgio Hartman, diretor de Manufatura da FPT Powertrain Technologies, é indispensável estabilizar as operações produtivas e agilizar tempos de resposta. “Para isso é fundamental ter os fornecedores ao lado e reduzir custos de mão-de-obra, já que commodities têm preços internacionais definidos", afirmou.
Fábrica virtual - Silvio Illi, gerente da planta da Ford em São Bernardo do Campo, ressaltou a tendência ao envolvimento dos especialistas em manufatura desde o estágio de desenvolvimento do produto. "É uma forma de elevar a eficiência nas operações, evitando revisões constantes no projeto provocadas por problemas na hora de produzir", explicou.
“A Ford utiliza também ferramentas virtuais para integrar projeto e manufatura, otimizando as decisões”, afirmou. Illi entende que as novas tecnologias reduziram a prototipagem física, trouxeram maior eficiência aos processos e encurtaram o tempo de lançamento de produtos.
Para Frank Sowade, diretor da fábrica da Volkswagen em Taubaté, integrar a manufatura na fase de desenvolvimento é um caminho para ganhar flexibilidade e se tornou preocupação constante na gestão. Responsável pela implantação da manufatura digital na companhia, Sowade passou a comandar as operações na nova unidade também com o objetivo de reduzir impactos ao meio ambiente.
Sinergia - Gilson Souza, diretor de Projetos Industriais da Renault, destacou a padronização do sistema de produção e planta única para fabricação de carros de passeio e utilitários dentro da aliança Renault-Nissan. “O sistema é válido para todas as fábricas Renault-Nissan no mundo, que fazem troca de informação constante”, disse.
Segundo o engenheiro, o parceiro com presença mais forte em cada região é responsável pelo desenvolvimento da parceria. "Foi o que aconteceu com o lançamento do Livina, novo carro da Nissan. A Renault, que chegou primeiro ao mercado brasileiro, oferece suporte a diversas operações, especialmente na área de produção", ressaltou.
Walter Othero, diretor de Manufatura da GM em Gravataí e Rosário (Argentina), demonstrou a integração das diferentes plantas da General Motors em âmbito global. "A padronização de plataformas permite a troca de produtos entre unidades, trazendo ganhos de capacidade produtiva sem investimentos significativos”, assegurou.
A remanufatura também esteve em pauta do simpósio da SAE BRASIL. Edmundo Manzini, engenheiro responsável pela atividade na unidade da Mercedes-Benz em Campinas, apresentou o sistema Renov, adotado para recuperação de componentes de motores desde 2004. "Utilizando em boa parte a experiência alemã, reaproveitamos peças que podem ser adquiridas novamente na rede de concessionárias. Os resultados têm sido muitos bons, tanto para a fábrica como para os aplicadores", afirmou.
Visita à Ford - O programa do simpósio completou-se no dia 23 com visita à fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo, onde a empresa produz o Ka e a picape Courier, além de caminhões. A unidade opera em apenas um turno de produção e tem fôlego para atender novos programas. Silvio Illi, gerente da planta, disse que os investimentos nas linhas de produção elevaram a eficiência da fábrica paulista a níveis semelhantes aos obtidos em Camaçari, onde a marca produz o EcoSport e o Fiesta.
|